Com boom bap, rimas afiadas e emoção à flor da pele, a MC transforma vivência em arte e lança um som que é despertar criativo, luta e vitória.
Com rimas afiadas, flow visceral e a força de uma MC que entende sua caminhada como revolução, Lurdez da Luz lança “Epifania”, um rap em boom bap que é autoexaltação, mas também denúncia e certeza sobre a invisibilidade da arte feita por mulheres no Hip Hop. A faixa, produzida por Maurício Caetano e com vocais de Mari Moreira, é um convite à resistência, ao despertar criativo e ao reconhecimento da potência feminina na cultura.

Eu, Sarah Mascarenhas, adoro e acompanho de perto o trabalho de Lurdez da Luz, fui atrás de uma entrevista sobre esse novo lançamento, confere aí o papo:
O que significa para você o título “Epifania”? Como essa ideia de despertar criativo se traduz em sua trajetória artística?
Lurdez – Eu já li sobre o processo de várias pessoas da arte inclusive de outras linguagens que entendem esse estopim, esse momento de vir uma ideia que te toma e que vc sabe que tem que ir até o fim e colocar no mundo, nessa música que é uma auto exaltação da minha caminhada, uma validação de dentro pra fora mas como tudo que eu faço sempre traz questões da estruturação social,como a invisibilidade da arte feita por mulheres e mais especificamente no Hip Hop, quando terminei a letra eu chorei, e isso acontece as vezes, um choro que limpa, que traz uma clareza uma profunda sensação de realização mesmo sendo algo tão imaterial quando uma música.
A faixa traz uma batida boom bap e rimas afiadas. Qual foi a sua inspiração estética e musical para construir esse rap?
Lurdez – Foi meu começo, o que eu comecei a ouvir de rap nos anos 90, porquê eu sou uma mc, é assim que eu me entendo e esse termo é além do rap, a arte do mcing está em vários gêneros musicais periféricos do mundo, essa sempre foi minha visão então eu me joguei em ritmos diversos ao longo da minha carreira, mas nesse caso me deu uma vontade de fazer algo que é indubitavelmente rap.
“Epifania” celebra a conquista de espaço num cenário desafiador. Quais foram os maiores obstáculos que você enfrentou para consolidar sua voz nesse meio?
Lurdez – Eu num acho que eu me consolidei, eu existo eu faço não mas acho que eu tenha o reconhecimento que eu mereço. Acho que se trata de uma cultura mais fechada para as mulheres do que outras, o silenciamento nem sempre vem de tentarem nos calar e sim de ignorar o que é dito. Mas eu sei que sempre que eu lançar uma música eu vou nutrir um x de pessoas e trazer mais um tanto de gente nova e pra mim isso vale a pena. Minha discografia , eu tenho uma visão de vida toda, como se olhasse pra minha vida hoje do meu leito de morte.
Você divide essa música com a produção de Maurício Caetano e os vocais de Mari Moreira. Como foi essa parceria e o que ela acrescentou à sua criação?
Lurdez – O Mau é parceiro de longa data e estamos pra fazer um som junto a anos e simplesmente finalmente rolou!!! A Mari é uma joia, eu brinco que é o meu Lino Kriss, ela tem feito os backings melódicos de vários sons que lancei nesses últimos tempos, Ambos tem projetos solos, o Mau está começando a lançar agora faixas dele e a Mari está em processo de produção, talentosos e pessoas realmente confiáveis, o que me deixa muito confortável.
Seu rap transforma vivência em arte e luta em vitória. Quais experiências pessoais mais atravessam essa composição?
Lurdez – Um monte… Classe social, falta de perspectiva e a tentativa de ultrapassar isso fazendo arte, desigualdade geográfica até, o entendimento que estamos fazendo algo fora dos padrões em um lugar que não valoriza produção cultural de um modo geral e a culpa nem é do povo na real, maternidade solo o que já se estende para estruturação patriarcal e por aí vai…
O rap feminino no Brasil vem conquistando cada vez mais visibilidade. Como você enxerga esse momento para as mulheres no hip hop?
Lurdez – Bem melhor, hoje existe um público para isso, que foi se formando pela construção da presença da mulher nessa cultura por décadas, fora a evolução de consciência geral sobre nossos papéis. Existe um equilíbrio, um respeito maior.
“Epifania” chega como um som que empodera e inspira. O que você deseja despertar em quem escuta essa música?
Lurdez – Garra principalmente e acalanto consigo mesmo, se acalante. Eu queria falar como eu me vejo também algo bem pessoal mesmo e que muitas outras que se sentiram tiradas podem se identificar.