Um homem padrão falou do meu corpo e eu murchei

Gostaria de chegar aqui hoje com um texto romântico sobre a semana capitalista dos namorados, mas fui tomada de assalto por uma vontade de colocar para fora algo que me ocorreu de forma inusitada e desgastante: o constrangimento causado por homem ao meu corpo. “Constrangimento” é uma palavra até bonitinha, embora tenha um sentido negativo. Dado o contexto da coisa, eu posso até usar o termo “violência verbal” e velada, muitíssimo velada em nome da brincadeira, fica até mais honesto comigo. 

Em um dia útil como qualquer outro, estou eu na academia, na tentativa árdua de ter o mínimo de saúde física e mental que seja. Uma pessoa conhecida, daquelas de se ver todo dia, cumprimentar e raramente se encontrar longe daquele ambiente me chama e em uma de suas inúmeras brincadeiras com quase todos que frequentam ali, comenta que eu finalizo os exercícios muito rápido e eu digo que ao contrário dele, eu não fico conversando, vou ali para treinar mesmo. Ele responde que ele pode ficar de conversa tranquilamente, pois ele tem um corpo definido, ao contrário de mim, que preciso suar muito pra chegar àquele nível. 

Ó céus! Nada que eu não saiba, (in)felizmente. O que me admira e me enraivece comigo mesma é eu ainda esperar um pouco de noção e respeito de um homem padrão. Não foi a primeira vez que meu corpo foi alvo de piadas por ele, mas dessa vez, eu senti que uma linha tênue foi atravessada sem medo. Culpa minha de não ter estabelecido um limite antes? Provavelmente não, mas a gente sempre se culpa. Perguntei se ele se sentia bem fazendo body shaming, ao que escuto de seu marido (que estava ao lado presenciando tudo) que não sabia que termo era esse e eu, como jornalista, deveria parar de inventar palavras – e histórias. Ora, mais uma violência? Na terceira, já pode pedir música.

Imagino que seja muito legal e auto afirmativo desacreditar uma jornalista recém-formada, já que ambos fazem questão de espalhar pelos corredores da área de musculação que são amigos pessoais de ícones do jornalismo global como Renata Lo Prete e Marcelo Lins. A gente vale o que pesa, menos na academia. 

Não surpreendida o bastante com aquela situação e já saturada, me afasto e retomo o meu treino. E para finalizar o nocaute dos gigantes de corpo e vazios de cérebro, escuto que estou estressada “por falta de sexo”. 

É, sei nem o que comentar. Talvez nem precise, já que estou ocupada demais com as inseguranças que tenho com meu corpo e o futuro da minha carreira. Sendo assim, dada a liberdade de escolha causada pela terceira violência, deixo aqui meu pedido:

Pode tocar essa aí, por gentileza.


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