Vacas Exaustas: Vitoria Faria dá voz à luta das mulheres artistas no Brasil e no mundo

É sempre um prazer abrir espaço para histórias que desafiam padrões e reafirmam o protagonismo das mulheres na música. E hoje, o blog da Hora do Sabbat se honra em compartilhar a potência de uma mulher acordeonista — instrumento ainda pouco ocupado por mãos femininas. Vitoria Faria chega com seu primeiro disco como cantora e compositora, trazendo a força de quem vive a música com o corpo inteiro. O álbum Vacas Exaustas conta com a produção sensível e pulsante de Guilherme Kastrup e a participação de mulheres que já fazem parte da nossa história: Flaira Ferro, que tocamos desde 2018; Assucena, que reconheceu e celebrou o nosso trabalho com carinho; e Luiza Brina, presença constante nas nossas seleções. Aqui no blog, extensão viva da nossa escuta e curadoria, temos o prazer de registrar essa entrevista conduzida pela palavra escrita — porque na Hora do Sabbat, a gente escuta através da voz e também da letra.

Confira a seguir a entrevista com Vitoria Faria para a Hora do Sabbat

Sarah: Vitoria, sua trajetória musical é riquíssima, desde a formação em acordeom e voz até este primeiro álbum como cantora e compositora. Olhando para trás, a mulher que você se tornou realizou os sonhos daquela menina que se encantou pela música? Você imaginava trilhar este caminho, ou a vida te levou por direções inesperadas?
Vitoria: Sim, eu imaginava trilhar o caminho da arte, por começar a fazer isso desde muito cedo, morando dentro de um ponto de cultura e sendo criada por uma mãe e um padrasto artistas. Comecei a tocar para ajudar dentro de casa. Mas o tipo de artista que eu sou hoje rompe e questiona muitas das tradições culturais das quais fui criada.

Sarah: O título do álbum, “Vacas Exaustas”, é bastante impactante e carrega uma carga emocional e social muito forte. Como ele se conecta com as outras faixas do disco?
Vitoria: Esse disco nasce do momento de exaustão generalizada da minha pessoa vivendo num país que não era o meu (Portugal), sendo mulher, imigrante e instrumentista. Eu me sinto como uma grande vaca, que cede tudo ao mundo — e mesmo assim segue sendo apenas uma vaca. A exaustão é fruto de uma vida negociando com o mundo machista. O álbum nasce do estopim do cansaço e do desejo de que essas vozes invisibilizadas sejam pronunciadas em alto e bom som.

Sarah: A produção de Kastrup e as participações de tantas artistas sensacionais enriqueceram o álbum. Como se deu essa colaboração?
Vitoria: Tentei trazer mulheres fora do eixo SP-RJ, com recortes diversos. Assucena representa resistência trans e baiana. Flaira Ferro é uma inspiração de palco, dança e maternidade. Vênus Garland traz a interseção do clássico com o funk periférico. Luiza Brina entrou como multi-instrumentista e arranjadora. Cada uma trouxe um pedaço do Brasil, da arte e de si para o disco.

Sarah: Em “Vacas Exaustas”, você navega por diversos estilos musicais. Como foi essa busca por diferentes sonoridades?
Vitoria: A exaustão cotidiana é barulho, é ruído. O disco tem esse som urbano, de fábrica, de padronização. A pauta do disco é urgente e precisa existir em diversas linguagens: do brega ao choro, da sala de concerto ao baile funk. A sonoridade dialoga com esse desejo de existir e falar em diferentes bolhas.

Sarah: Agora que “Vacas Exaustas” chegou ao mundo, o que vem pela frente?
Vitoria: Estou escrevendo um novo projeto mapeando mulheres do acordeom brasileiro. Quero voltar aos trabalhos coletivos e fazer a turnê do Vacas Exaustas. O espetáculo está vindo aí — com projeções, figurinos e performances. Espero vocês na plateia!

Um manifesto em forma de disco

Em Vacas Exaustas, Vitoria Faria nos oferece mais do que um álbum. Ela cria um território de fala onde as dores, desejos e enfrentamentos de muitas mulheres ganham som, corpo e direção. O disco é uma travessia entre a tradição e a ruptura, entre o silêncio imposto e a palavra redimida. É também uma celebração da força coletiva de mulheres que fazem da arte um espaço de pertencimento, política e beleza.

E eu sigo no convite para que você continue escutando mulheres, lendo mulheres, contratando mulheres, votando mulheres — e somando com esse movimento lindo que a gente faz aqui.
Deixe-se atravessar pelas palavras de tantas deidades.

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Sarah Mascarenhas é jornalista no rádio e criadora do programa Hora do Sabbat, onde escuta e amplifica vozes de mulheres nas artes e na vida. Produz conteúdos com afeto, estratégia e compromisso com a transformação.

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