Há exatas duas semanas, fomos concebidos com a graça de ter a cantora Lady Gaga em solo brasileiro em turnê de divulgação do seu novo álbum “Mayhem”, em um feito apoteótico de reunir mais de um milhão de pessoas na praia de Copacabana, assim tendo o ato denominado como “Gagacabana”. Assistindo a performance de casa, me veio à tona o significado do que é ser mulher no espectro da música pop. É um significado pesado, denso, cheio de representatividade seja dela enquanto mulher ou enquanto porta voz de uma comunidade.
Comunidade essa que às vezes esquece que ela é só (até parece que é “só”) uma mulher. Importante falar sobre isso enquanto o público massivamente alto de uma diva pop é composto de homens, massivamente gays, mas isso não os impede de ser massivamente misóginos. Lembro-me quando em meados de março deste ano, Lady Gaga lançou esse tão esperado álbum de estúdio, depois de 4 anos. Tão esperado quanto um álbum da saudosa e (graças a Deus) viva Britney Spears, inativa hoje pela misoginia e conflitos sociais postos em vitrine pela mídia.
“Lady Gaga cheia de compositores e não entregou”
“Lady Gaga é um pouco menos Mother Monster do que imaginávamos…”
“Os bons singles foram baits para o que viria”
“Que álbum horrível, vcs vão mesmo ouvir isso ao vivo?”
Dentre outros comentários, foi o que li no famigerado e amado X (para mim, sempre Twitter). É importante frisar que esses foram os comentários menos piores, eu não seria capaz de colocar os mais pesados aqui. Claro, opiniões são livres, sempre serão, mas acho que precisamos refletir o peso que colocamos em uma mulher só porque ela é uma artista famosa. Será que realmente somos admiradores de sua obra ou estamos querendo que ela diga o que queremos ouvir? Que responsabilidade é essa de criar algo pessoal, superando vários traumas midiaticamente expostos, mas que precise superar a expectativa de alguém cronicamente online e sem noção?
Lembremos que Chris Brown esteve performando recentemente em um show lotadíssimo em nosso país, sem hits memoráveis desde 15 anos atrás e caso você não saiba ou tenha memória fraca, é só pesquisar no Google “chris brown+agressão” e verá que a própria diva pop envolvida nesse caso foi esquecida, visto a quantidade ativa de adoradores do agressor nesse show.
Tão fácil ser um homem na mídia…
Justin Timberlake que o diga… induziu um aborto, fez todo mundo acreditar que foi traído por Britney, foi preso recentemente por embriaguez ao volante, lança discos meia boca desde 2012, mas seu show no Lollapalooza há alguns meses estava lotado, como sempre.
Gaga entregou um álbum tão coeso com a sua essência, sobretudo dos primeiros álbuns, que o semblante midiático entregue por ela faz bastante alusão a esse ser sombrio de “The Fame Monster” e “Born This Way”, não só pelas excentricidades que são referências de suas apresentações, mas pela sonoridade bastante pop que flerta lindamente com o rock.
Importante pontuar que seu show ao vivo é bastante feroz e a sua banda é um espetáculo a parte. Não me espantaria o êxito que ela teria se lançasse um álbum de heavy metal…
Me parece que ela está mais “Mother Monster” do que nunca, já que ao vivo no Brasil, muita gente vibrou, seja da areia da praia ou de casa. Esse arquétipo da “mãe monstro” alimentado por Gaga e que incentiva seus filihinhos (os “Little Monsters”) a serem o que são sem medo é um belo exemplo pra gente deixar ela ser quem ela é e não sermos verdadeiros monstros com uma mulher que preza tanto pela liberdade.

Míriam Pimentel é jornalista pela Universidade Federal de Alagoas, amante da cultura pop, apaixonada por música e pisciana com ascendente em peixes que ama escrever devaneios lúcidos e crônicas embriagadas, não necessariamente nessa ordem.