Rachel Reis entrega suingue e sensibilidade em “Divina Casca”

O segundo álbum da artista mergulha em temas como autoconhecimento e ancestralidade, costurando com leveza e profundidade.

Se o primeiro álbum de Rachel Reis já mostrava que a cantora baiana tinha muito a dizer (e dançar), Divina Casca chega como uma confirmação elegante de que ela está só começando a mostrar o tamanho da sua arte. O disco lançado em abril deste ano é daqueles que você dá o play e, antes de perceber, já está de olhos fechados, a cabeça balançando no ritmo, e o coração sendo apertado pelas letras.

Rachel, que é de Feira de Santana (BA), entrega um trabalho que mistura sofisticação e malemolência, numa estética que flerta com o pop, o pagodão baiano, o R&B, o MPB e até um toque de afrobeat, e tudo isso sem parecer perdido ou exagerado. Pelo contrário: o álbum tem uma coesão impressionante, costurada com muito cuidado pelos produtores Barro e Guilherme Assis, que ajudaram a criar um som moderno sem tirar a alma baiana do centro.

Uma casca divina, mas nada superficial

O nome Divina Casca já entrega parte da proposta: aqui, a artista olha pra si mesma e pros sentimentos com uma mistura de reverência e exposição. É como se ela dissesse “sim, eu tenho essa capa linda, mas por dentro é tudo muito real”. E isso se reflete tanto nas letras quanto nos arranjos. A leveza está presente, mas não é vazia. Há muita introspecção, afeto, desejo e força.

Rachel Reis em novo álbum (Foto: Érico Toscano/Divulgação)

O álbum é tropical, sim, mas não no estereótipo da brasilidade pra exportação. Aqui é Bahia com orgulho, com toque de tambor, com peso. Rachel navega pelas sonoridades negras com muito respeito e pertencimento. Em alguns momentos, lembra a elegância de Céu, em outros, tem a ginga de Luedji Luna, mas sempre com sua própria pegada. Ela não está tentando ser ninguém, está sendo ela mesma, e isso já é muito.

A produção é limpa e ao mesmo tempo cheia de camadas. Cada música tem pequenos detalhes que vão se revelando com o tempo: um sintetizador aqui, uma percussão ali, um coral sutil acolá. Dá vontade de ouvir de fone e depois ouvir de novo, em voz alta, com os amigos dançando na sala.

Rachel em movimento

Além do disco em si, Rachel Reis vem construindo uma trajetória interessante também fora das faixas. Suas músicas já apareceram em trilhas de novelas como Fuzuê e Renascer, e sua presença de palco tem se mostrado cada vez mais potente. Ela é uma artista em movimento, em crescimento, e Divina Casca parece ser mais um passo firme nessa jornada. É um álbum bem amarrado, que exala conceito e liberdade e elegância, além de mostrar que a artista sabe muito bem o que faz.

Não é um álbum pra ouvir correndo. É pra saborear. Dá pra sentir o cuidado em cada faixa, e a vontade de Rachel de mostrar que é possível fazer música pop com profundidade, com raízes, com propósito.

Se você ainda não conhecia Rachel Reis, esse é o momento certo pra se aproximar. Divina Casca éum retrato delicado de uma mulher artista em seu melhor momento até agora, com coragem pra se mostrar e poesia pra transformar isso em som. 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *