Como mulher, sempre me perguntei por que a fé e a espiritualidade são frequentemente utilizadas
para justificar a opressão e a discriminação contra as mulheres. É um tema intricado e multifacetado
que afeta muitas mulheres em todo o planeta.
Eu acredito que a espiritualidade pode ser uma fonte de consolação, orientação e comunidade para
muitas pessoas, mas também pode ser utilizada para justificar a tirania e a discriminação contra as
mulheres. A doutrina pode ser interpretada de maneira que coíba a autonomia e a liberdade
feminina. Por exemplo, em algumas seitas, as mulheres podem ser proibidas de tomar decisões
importantes sobre sua própria existência, como a escolha de profissão ou matrimônio.
Eu também acredito que a crença pode perpetuar estereótipos de gênero e papéis tradicionais que
restringem as oportunidades e escolhas femininas. Ilustrando isso, em algumas religiões, as
mulheres são vistas como responsáveis por cuidar do lar e dos filhos, enquanto os homens são
vistos como provedores. Isso pode cercear as oportunidades das mulheres em termos de instrução e
carreira. Além disso, a falta de representação feminina em lideranças religiosas pode perpetuar a
ideia de que as mulheres não são capazes de liderar ou tomar decisões importantes.
Infelizmente, a doutrina também pode ser utilizada para justificar a brutalidade e a discriminação
contra as mulheres. Um caso em questão é a violência conjugal, que é justificada como uma forma
de disciplina doméstica em algumas culturas. Além disso, as mulheres podem ser discriminadas em
termos de acesso a instrução, emprego e saúde. A crença também pode menosprezar ou minimizar
a importância da igualdade de gênero. Assim, em algumas seitas, as mulheres não têm os mesmos
direitos e oportunidades que os homens em termos de liderança e tomada de decisão.
No entanto, é fundamental lembrar que a liberdade de escolha religiosa é um direito fundamental que
deve ser respeitado. Cada pessoa tem o direito de escolher a crença que melhor se adequa às suas
convicções e valores, sem medo de discriminação ou julgamento. É importante reconhecer que
existem muitas crenças e que cada uma delas oferece um caminho distinto para seus seguidores.
Como diz Chimamanda Ngozi Adichie, “A questão de gênero não é apenas uma questão de
mulheres, é uma questão de humanidade”. É hora de repensar e reinterpretar a crença de maneira
que promova a igualdade e o empoderamento feminino. Isso pode incluir a promoção da instrução e
conscientização sobre a igualdade de gênero, bem como o apoio a lideranças femininas e à
participação das mulheres em processos de tomada de decisão.
Um exemplo inspirador de luta pela igualdade de gênero é a história de Malala Yousafzai, que foi
atacada pelo Talibã por defender o direito das meninas à educação. Apesar do ataque, Malala
continuou a lutar pelos direitos das mulheres e se tornou uma voz global pela educação e igualdade
de gênero. Ela recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2014 por sua luta contra a supressão das
crianças e jovens e pelo direito de todos à educação.
O impacto da luta de Malala foi global e profundo. Ela ajudou a aprovar a primeira lei de direito à
educação no Paquistão e inspirou milhões de pessoas a lutar por seus direitos e pela educação. Sua
história também chamou a atenção global para a importância da educação e os direitos humanos,
especialmente para as meninas em regiões conflitivas. Além disso, Malala se tornou um ícone global,
inspirando pessoas de todas as idades e culturas a lutar pela igualdade de gênero e pelos direitos
humanos.
A crença pode ser uma força positiva na vida das pessoas, mas é importante reconhecer e
questionar as interpretações que perpetuam a subjugação feminina. É fundamental promover a
igualdade e o empoderamento das mulheres em todas as áreas da vida, incluindo a religião. Juntas,
podemos criar um mundo mais justo e igualitário para todos, onde cada pessoa possa escolher sua
crença sem medo de discriminação ou julgamento.

Tay Oliveira é Pedagoga com pós-graduação em Psicopedagogia, poetisa e escritora. Com obras publicadas em antologias como ‘Mapeam 2024’ e ‘Além das Palavras 2025’, é também participante e idealizadora do Sarau Libertários, um espaço de expressão artística e literária. Como colunista semanal do blog Hora do Sabbat , compartilha reflexões e pensamentos sobre cultura, arte e sociedade.”
Uma resposta
Parabéns pelas palavras e posicionamento diante de uma questão tão séria e tão difícil de lutar.