Quando parei de agradar, pude me reencontrar.

Desde muito cedo, aprendi a ser a menina que não dava trabalho. A filha que não chorava alto, que não fazia birra, que não questionava. Fui uma bebê arco-íris muito esperada por toda a família, e, talvez por isso, absorvi para mim a responsabilidade de nunca desapontar aqueles que me amavam. Cresci acreditando que agradar era a forma mais segura de ser amada.

Na infância, estava sempre pronta para usar uma roupa que não gostava, para fazer pouca bagunça, para aceitar um penteado com o qual me sentia horrível em uma festa importante. Na adolescência, fui uma jovem comportada, que nunca se envolveu em confusão, que sempre fez tudo “como manda o figurino”. Abri mão do sonho da faculdade federal porque parecia mais adequado seguir o caminho que esperavam de mim, quando havíamos acabado de perder o chefe da família com o falecimento do meu pai. E também abri mão do sonho do intercâmbio internacional porque as pessoas me julgavam sem iniciativa, tímida e acreditavam que eu não aguentaria os perrengues de viver em um outro país.

Entendo que todos que me amam ofereceram o seu melhor para mim e sempre tentaram me proteger. Mas, ao tentar corresponder a todas as expectativas, cresci sem identidade, sem saber muita coisa sobre mim e principalmente julgando a minha capacidade.

Foi o autoconhecimento que me possibilitou conhecer mais sobre mim, tomar posse do meu valor, resgatar minha autoestima, conhecer as minhas potencialidades e me permitir viver uma vida repleta de autenticidade e realização.

O peso invisível de agradar

Muitas mulheres carregam esse peso invisível: o medo de desapontar.
Desde pequenas, somos ensinadas a ser boazinhas, a não fazer barulho, a cuidar dos outros antes de cuidar de nós mesmas. A sociedade valoriza a mulher que se doa, que se sacrifica, que coloca as necessidades alheias acima das suas.

Esse comportamento, embora muitas vezes elogiado, pode nos afastar de quem realmente somos. Quando vivemos para atender às expectativas dos outros, corremos o risco de nos abandonar. Deixamos de ouvir nossa voz interior, de seguir nossos desejos, de viver a nossa verdade.

A coragem de não agradar

Escolher por si mesma é um ato de coragem. Significa olhar para dentro, reconhecer suas necessidades e tomar decisões alinhadas com sua essência. É dizer “não” quando todos esperam um “sim”. É seguir um caminho diferente, mesmo que isso cause estranhamento ou desapontamento nos outros.

Essa escolha nem sempre é fácil. Pode trazer conflitos, críticas e até afastamentos.
Mas também traz liberdade, autenticidade e uma conexão profunda consigo mesma.
Posso lhe afirmar isso com conhecimento de causa porque paguei preços altos demais durante o meu processo de re-descobimento e autoaceitação.

E foi em um momento muito importante da minha vida que o livro A Coragem de Não Agradar, de Ichiro Kishimi e Fumitake Koga, caiu nas minhas mãos. O título já me atravessou — era como se falasse diretamente comigo, com aquela versão da Iris que vivia tentando se encaixar.

Uma das passagens que me marcou profundamente foi:

“Você é quem decide seu próprio valor. Se vive tentando agradar aos outros, estará sempre vivendo segundo os padrões de alguém.”

Ler isso foi como levar um chacoalhão carinhoso da vida. Pela primeira vez, compreendi que a validação que eu tanto buscava fora precisava, na verdade, nascer dentro.

O autoconhecimento foi fundamental na minha jornada. Ao me permitir olhar para dentro, pude identificar padrões que não me serviam mais, crenças limitantes e comportamentos que me afastavam de mim mesma. Foi um processo de desconstrução e reconstrução, de dor e de cura.

Aprendi a me ouvir, a me respeitar e a me colocar em primeiro lugar. Descobri que é possível amar os outros sem se abandonar. Que é possível ser gentil sem se anular. Que é possível viver uma vida alinhada com a sua verdade, mesmo que isso signifique desapontar algumas pessoas que você ama muito ao longo do caminho.

Desapontar os outros pode ser desconfortável, mas se abandonar é devastador.
Quando escolhemos por nós mesmas, abrimos espaço para uma vida mais plena, autêntica e significativa.

Se você sente que tem vivido para agradar, que tem se moldado às expectativas alheias, convido você a olhar para dentro e se perguntar:
“O que eu realmente quero? O que estou deixando de viver para não frustrar ninguém?
Quem sou eu, de verdade, por trás de tudo o que esperam de mim?”

Ter coragem de não agradar me levou de volta para mim.
E talvez esse seja também o primeiro passo do seu reencontro.

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