Catálogo de Cantoras Negras Brasileiras mapeia trajetórias artísticas e histórias de vida

Como o Brasil tem cuidado da memória e do legado das mulheres negras na música? Esta pergunta foi o disparador para a pesquisa da cantora e compositora Luciana Oliveira, que resultou no Catálogo de Cantoras Negras Brasileiras, lançado em 2025, pela Editora Dandara.

O livro nasceu a partir da pesquisa de Mestrado em Fonoaudiologia pela PUC-SP, onde a autora investigou a estética afro-diaspórica no canto e na performance musical dessas artistas. 

Diante da dificuldade de encontrar registros detalhados sobre cantoras negras brasileiras, especialmente aquelas que não pertencem aos principais eixos culturais, Luciana Oliveira decidiu criar um documento que preservasse suas histórias e contribuições para a música brasileira. “A música, o canto e o repertório dessas cantoras são responsáveis por resgatar e difundir um Brasil quase esquecido. Eu percebi o quanto é importante que a nossa história seja registrada, seja contada e, sobretudo, também por nós mesmos, a gente poder ser sujeito das nossas histórias. Eu estava fazendo mestrado em 2020, comecei a ler muitas biografias, artigos e teses de cantoras, e percebi que ainda é uma produção que não dá conta dessa diversidade de vozes do Brasil, abrangendo também as regiões. Então, muitas vezes, o foco ainda recai sobre a região Sudeste. A partir dali, comecei a reunir mini biografias e, depois, surgiu a ideia de que seria bem mais interessante poder ter um material que conseguisse reunir, ainda que não fosse de forma tão aprofundada em cada uma das histórias, mas que trouxesse um mapeamento das diversas regiões do Brasil e de cantoras de diversos estilos. A gente conseguiu chegar a mais de 45 cantoras e contar um pouquinho da história e trajetória delas”, conta Luciana.

A obra é dividida em quatro capítulos. O primeiro destaca precursoras do canto negro no  Brasil nos séculos 18 e 19, como Maria Camila da Conceição e Lapinha. O segundo apresenta artistas que foram pilares para a música brasileira, como Dona Ivone Lara, Dolores Duran e Alcione. O terceiro capítulo homenageia cantoras próximas dos 80 anos que seguem com carreiras ativas, como Cátia de França e Lia de Itamaracá. No último capítulo são contempladas 35 cantoras contemporâneas.

O livro oferece um panorama rico da música negra brasileira, mapeando e desenhando o Brasil, a partir de suas vozes, e ampliando o conhecimento sobre a obra musical dessas cantoras, que não estão fixadas no tempo de um lançamento de um show ou de um álbum, mas sim, no tempo de suas próprias histórias e trajetórias.

A obra destaca tanto as pioneiras que abriram caminhos, preservaram memórias e fortaleceram os laços entre África e Brasil, quanto as artistas contemporâneas que continuam pavimentando o canto negro e feminino no país. 

Entre os nomes registrados, Leci Brandão, uma das poucas mulheres a se destacar na ala de compositores da Mangueira, ao lado de outras grandes referências da composição feminina, como Dolores Duran e Dona Ivone Lara.

O catálogo também exalta aquelas que elevaram o canto feminino ao status de divino, como Elizeth Cardoso; as que romperam barreiras nos instrumentos musicais, como Cátia de França; e as que nos fazem girar ao som das águas, como Lia de Itamaracá. Além dessas figuras consagradas,  cantoras contemporâneas de diferentes regiões do Brasil, ampliando a visão sobre a diversidade e a força da música negra feminina no país. Entre os destaques da nova geração estão Liniker, Luedji Luna, Karol Conká, Letícia Fialho, Jaque Barroso, Isaar e Bia Ferreira.

“O recorte que a gente definiu, principalmente nessa parte em que trazemos as artistas contemporâneas – que foi o foco maior do livro – era trazer cantoras que já tivessem um legado, gravado um disco e alguns EPs, com pelo menos uns 10, 20 anos de atuação na música. Esse mapeamento contempla dois ou três nomes de cada região. O capítulo canto-fundamento, eu dediquei a algumas cantoras que foram muito citadas como referência pelas próprias cantoras contemporâneas”.

Com identidade visual assinada pela designer Natali Gomes e supervisão acadêmica da pós-doutora Goli Guerreiro, o livro tem produção executiva de Jussara Salles.

Serviço

@lucianaoliveira.cantora

www.editoradandara.com.br

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