Tem homens que entram na vida da mulher como se fosse presente, mas se instalam como pendência. No começo, parecia só um detalhe fora do lugar. Quando a gente percebe, já estão ocupando espaço demais — no corpo, na casa, na rotina, na paciência.
Eles não chegam para somar, mas para se acomodar. Chamam de parceria o que é, na verdade, uma transferência sutil de carga. Dizem que querem dividir, mas somem quando a divisão inclui louça, filhos, boletos vencidos e silêncios incômodos.

Não é sobre um nome específico. É sobre um padrão. Um velho roteiro com roupa nova. Antes, vendiam pra gente a imagem do provedor: o homem que trazia o sustento enquanto a mulher fazia todo o resto. Era injusto, desigual, e nunca romântico — mas ao menos ninguém disfarçava o arranjo.
Hoje, o modelo mudou, mas a desigualdade ganhou contornos mais sofisticados. A mulher saiu de casa, entrou no mercado, conquistou autonomia — e ainda assim, carrega a maior parte do afeto, do cuidado, da organização da vida. O homem contemporâneo se diz evoluído, propõe divisão das contas, mas não das consequências. Se ausenta nas pequenas decisões, terceiriza responsabilidades, e ainda cobra leveza.

É o casamento da modernidade: metade das contas, quase nada das responsabilidades. O discurso é atualizado, mas a prática continua ancorada no passado — com um toque de aplicativo, um punhado de frases de autoajuda e nenhuma disposição real pra crescer junto.
A régua do que a mulher oferece subiu. Ela tem diploma, independência, visão de mundo. Mas a régua do que ela aceita ainda está desregulada — e é por essa fresta que o Jurandir entra. Promete parceria, entrega peso. Se apresenta como solução, vira fardo. Quer cama, colo, comida e crédito emocional, sem trazer nada que construa verdadeiramente uma vida em comum.
A mulher precisa parar de romantizar homem que estaciona. Que ergue muros em vez de construir pontes. Que teme o trabalho do afeto, mas exige os frutos do cuidado. Relacionamento é escolha, não salvação. E se for pra dividir a vida, que seja com quem também quer criar caminhos — e não apenas se instalar nas rotas que você abriu sozinha.

Sofrer por Jurandir é aceitar migalhas e chamar de banquete.
É insistir num modelo de amor que só funciona pra ele.
É se manter onde a sua potência é drenada, e não multiplicada.
Se ele quer metade do aluguel, mas nenhuma parcela do seu cansaço…
Se ele quer o seu corpo, mas foge da sua complexidade…
Se ele quer presença, mas não quer responsabilidade…
Se poupe. Feche a porta. Suba a régua. E se abra só pra quem sabe somar.
Pare de sofrer por esse Jurandir!

Fernanda Azevedo se reconhece mulher, filha da mãe, filha da puta e a puta que pariu outra mulher. Taurina com ascendente em Escorpião, Lua em Peixes, distraída e controladora. Às vezes, se perco pelo caminho e deixa pedrinhas, estilo João e Maria.