Ifèran ará ení — O amor começa em si

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Ifèran ará ení — O amor começa em si

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Sobre autocuidado, amor-próprio e o poder de lavar as próprias joias antes do mundo acordar

Antes que o dia desperte, Oxum caminha até o rio.
Em silêncio, ela recolhe o tempo.
Lava suas joias com delicadeza, penteia os cabelos com calma, espalha ervas frescas sobre o corpo.
Tudo isso antes de qualquer afazer, antes do mundo exigir dela o que quer que seja.

Esse Itan — essa história sagrada — nos chega como um sussurro de sabedoria antiga:
antes de cuidar dos outros, é preciso cuidar de si.
Antes de se doar, é preciso se conhecer.
Oxum nos mostra, com seus gestos suaves e firmes, que o autocuidado não é luxo, vaidade ou capricho.
É dignidade.
É amor-próprio.
É Iferan ará eni.

Oxum, orixá das águas doces, da fertilidade, da beleza e do ouro, é também espelho.
E ao olhar para esse espelho, somos convidadas a ver não só nossa imagem,
mas tudo o que fomos ensinadas a apagar: o valor da nossa presença, o brilho que carregamos,
a importância de sermos fonte antes de sermos rio que corre para os outros.

Quantas vezes ouvimos que amar a si mesma era egoísmo?
Quantas vezes nos disseram que mulher boa é a que se doa inteira,
mesmo que isso a deixe vazia?

Oxum, com sua sabedoria ancestral, nos propõe outra lógica:
a do cuidado que começa em casa,
no corpo,
na pele,
na alma.
Cuidar de si é resistência.
É espiritualidade em forma de gesto cotidiano.

E o mais bonito é que esse cuidado não precisa ser grandioso.
Pode morar num banho demorado, num “não” dito com firmeza,
num creme passado com carinho, num silêncio acolhido com respeito.
Ritualizar o cotidiano é o que torna o comum em sagrado —
e Oxum sabe disso como ninguém.

Hoje, quando você se olhar no espelho, lembre-se dela.
Veja nos seus olhos a doçura das águas e a firmeza de quem sabe o que carrega.
Lave suas próprias joias, mesmo que elas sejam simbólicas.
Permita-se brilhar antes de cumprir qualquer obrigação.
Porque o amor, minha irmã, minha mana, minha flor do tempo —
o amor começa em si.

Iféran ará ení.

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