Mesmo em 2025, a presença feminina na arrecadação de direitos autorais ainda é mínima
Dois relatórios recém-divulgados escancaram a desigualdade de gênero no mercado musical brasileiro. A pesquisa Por Elas que Fazem a Música (UBC) e o relatório Mulheres na Música 2025 (Ecad) revelam que, mesmo com avanços pontuais, as mulheres ainda ficam com apenas 10% do total distribuído em direitos autorais no país.
Só cinco mulheres entre os 100 maiores arrecadadores
O dado mais direto (e chocante): entre os 100 artistas que mais receberam direitos autorais em 2024, só cinco são mulheres. Em 2023, esse número era seis. Ou seja, ao invés de melhorar, caiu.
O contraste mostra como o topo da cadeia ainda é dominado majoritariamente por homens, mesmo com a crescente atuação feminina no setor.
Crescimento tímido no número de beneficiadas
Em 2020, cerca de 22 mil mulheres recebiam algum valor relacionado à execução pública de obras. Agora são 29 mil. O número aumentou, mas ainda representa uma pequena parcela se comparado ao total geral.
Quando olhamos a divisão da grana entre as profissionais da música, os percentuais seguem desiguais:
- 73% do valor repassado para mulheres vai para autoras;
- 22,5% para intérpretes;
- 2,5% para instrumentistas;
- 1,5% para produtoras fonográficas;
- E só 0,5% para versionistas.
A produção feminina aumentou, mas o retorno segue baixo
Em 2024, o número de registros de obras assinadas por mulheres cresceu: 11% de alta no caso das produtoras e 10% para autoras e versionistas. Mesmo assim, isso ainda não se traduziu em mais espaço ou maior participação na arrecadação.
Para se ter uma ideia: a gestão coletiva da música arrecadou R$ 1,5 bilhão em 2024. Desses, R$ 926 milhões foram destinados a pessoas físicas. E só R$ 75 milhões foram para mulheres — o que representa 8%. O mesmo percentual de 2023.
Ou seja, mais dinheiro entra no mercado, mas a proporção que chega às mãos femininas continua parada no tempo.
Nos palcos, pouca presença na criação
Quando o assunto são os shows, a disparidade também aparece. Entre as 100 músicas mais tocadas no país, apenas 16 tiveram participação feminina na criação. E dessas, a primeira mulher compositora só aparece na 21ª posição do ranking.
Discriminação e assédio ainda são realidade
Além da diferença financeira, os relatos das mulheres do setor mostram um ambiente hostil e desigual:
- 76% dizem já ter sofrido discriminação de gênero;
- 66% afirmam que foram assediadas no ambiente profissional;
- 97% acreditam que homens têm mais espaço e oportunidades;
- E 90% já tiveram sua competência questionada simplesmente por serem mulheres.
Os relatórios estão disponíveis online
Quer ver os dados completos?
A pesquisa Por Elas que Fazem a Música pode ser acessada no site da UBC. Já o relatório Mulheres na Música 2025 está disponível na plataforma do Ecad.

Renata Luiz, publicitária e idealizadora do Jardim Elétrico, é embaixadora do WME e apaixonada por shows e descobertas sonoras. Por meio da escrita, impulsiona a cena independente brasileira e compartilha novas experiências musicais.