Desde muito pequenas, nós, mulheres, aprendemos a ceder.
Dividimos brinquedos mesmo sem querer. Sorrimos para adultos desconhecidos porque era “falta de educação” não fazê-lo. Aceitamos o que tem no prato, mesmo que não seja nossa comida preferida. Aplaudidas quando “não damos trabalho”, elogiadas quando somos boazinhas, educadas, prestativas e caladas.
Na prática, fomos condicionadas a pertencer antes mesmo de sermos. A ocupar espaços com docilidade, adaptação e disponibilidade. E, sem perceber, crescemos com a ideia de que pensar em nós é feio. Que priorizar a própria vontade é ser egoísta. Que dizer “não” é rejeitar, ser ingrata ou insensível.
Ao longo do tempo, esse script vai se enraizando. Nos tornamos mulheres que pedem desculpas por incomodar, que consultam todo mundo antes de decidir algo, que se moldam aos ambientes, aos gostos e às expectativas alheias — para continuar sendo aceitas.
No nosso imaginário coletivo, a pessoa egoísta é a vilã: aquela que não se importa com ninguém, que pensa só em si, que está sempre disposta a passar por cima dos outros.
E como nós, mulheres, não queremos ser vilãs, fazemos de tudo para ocupar o lugar oposto. A boazinha. A compreensiva. A que se sacrifica. A que se desdobra para dar conta de tudo.
Mas o custo disso é alto — e silencioso.
Talvez você se identifique com esse cenário: se eu te perguntar agora qual o seu estilo de música preferida, qual o seu hobby, quais são seus sonhos, o que você mais gosta de fazer nas horas vagas… você saberia responder com facilidade?
Ou sentiria um certo vazio, uma dúvida incômoda, como quem percebe que não se escuta há muito tempo?
Essa dificuldade de responder perguntas simples sobre nós mesmas não é desatenção — é resultado de uma vida voltada para o outro.
Quando crescemos treinadas para agradar, nos tornamos especialistas em perceber o que os outros precisam… e completamente inexperientes em reconhecer o que nós precisamos.
Não é à toa que, ao decidir fazer algo por nós — ir a um curso, sair sozinha, pedir ajuda, dizer que estamos cansadas — surge a culpa.
Parece que estamos roubando tempo de alguém. Negligenciando uma demanda. Sendo… egoístas.
Mas aqui está a verdade: pensar em si mesma não é descuido com os outros. É lembrança de si. É reconexão. É autocuidado.
A gente pode (e deve) aprender a se escolher sem se tornar insensível.
É possível ser gentil sem se anular.
É possível amar sem se abandonar.
Escolher a si mesma é, muitas vezes, um ato silenciosamente revolucionário.
É dizer: “Hoje, eu também sou prioridade.”
É decidir ouvir seu corpo, sua intuição, seus desejos, mesmo que o mundo peça pressa, respostas e obediência.
Autocuidado não é só spa, chás ou banhos demorados. É saber dizer “não”. É defender limites. É parar de se justificar. É descansar sem culpa. É fazer escolhas que façam sentido para a sua vida, e não para a validação externa.
Chega uma hora em que o cansaço emocional deixa de ser apenas desgaste e se torna afastamento de si.
Você começa a viver no modo automático, dizendo “sim” quando queria dizer “não”, cumprindo obrigações que não fazem mais sentido, existindo em função do que esperam de você — e não do que pulsa dentro do seu ser.
É por isso que escolher por si é urgente, é necessidade básica, é compromisso com a sua própria vida.
Porque se você não se escutar, quem vai?
Se você não se cuidar, quem cuidará de você com presença?
Se essa leitura mexeu com algo em você, te deixo um convite:
Antes de dormir hoje, coloque a mão no peito e se pergunte:
“O que eu quero, por mim e para mim, agora?”
Depois, escolha um pequeno gesto, por menor que seja, que honre essa resposta.
Faça por você. Não por aprovação. Não por reconhecimento. Apenas por você.
Porque você merece ser sua prioridade.
Porque não é egoísmo. É autocuidado. É amor próprio. É vida.
Lembre-se: Ao se escolher você não corre o risco de se tornar uma vilã mas, estará cada vez mais perto de ser a protagonista da sua história de vida!

Iris Daval é uma mulher em constante transformação, mentora de outras mulheres que buscam se reconectar com sua essência. Escreve sobre autoconhecimento e liberdade. Seu despertar foi o início de grandes mudanças e reconexões.