Acordei refletindo que existe algo de sagrado naquilo que acontece no invisível, que é imperceptível aos nossos olhos. E essa reflexão me fez escrever esse texto para a coluna.
É sagrado o tempo que uma semente passa embaixo da terra, antes de florir.
Ninguém vê, ninguém posta, ninguém aplaude. Mas é ali, no escuro e no silêncio, que ela se prepara. É ali que tudo começa. E com a gente não é diferente.
Às vezes nos perguntamos por que estamos tão exaustas, inseguras ou tristes sem perceber que estamos regando sementes dentro de nós que nem escolhemos plantar.
São elas: pensamentos automáticos, comparações disfarçadas de inspiração, notícias que só alimentam medo, vozes que não são nossas.
Por muito tempo, eu segui pessoas famosas nas redes sociais só para conhecer suas rotinas. Assistia aos jornais da TV aberta porque acreditava estar “informada”. E acompanhava perfis de pessoas com ideias completamente diferentes das minhas, justamente porque gostava da pessoa. Mas esse hábito me afetava.
A comparação diária driblava minha autoestima, me deixava insatisfeita com meu corpo, com minha condição financeira, com minha vida.
Como se, de algum modo, eu devesse viver fora dos meus limites, da minha verdade.
E isso não é apenas sentimento, é reflexo de uma mentalidade coletiva.
Para muitas mulheres, o espelho digital se tornou um terreno instável. A distorção entre imagem real e filtros, nomeada como “dismorfia do Snapchat”, reforça inseguranças profundas e leva até a procedimentos estéticos. E há ainda a síndrome do FOMO (medo de perder algo), que corrói a paz e aprofunda o vazio.
A comparação é uma semente invisível que germina dentro da gente como medo e insuficiência.
Foi então que entendi: esse consumo de imagens, de vidas distantes, não era inevitável. Era uma escolha. E essa escolha podia ser mudada.
A virada veio quando me permiti olhar com coragem e vulnerabilidade, palavras preciosas que Brené Brown nos convida a acolher em nossa rotina.
Em seu livro A Coragem de Ser Imperfeito, ela nos lembra que não precisamos ser completas para sermos dignas de pertencimento, e que viver inteiro implica abraçar nossas imperfeições e cultivar a compaixão por nós mesmas.
A partir daí, deixei de seguir quem não me nutria.
Passei a me informar por caminhos mais amplos, plurais.
Escolhi seguir pessoas que refletem minha idade, meu corpo, minhas lutas.
Pessoas reais que, como eu, desbravam vulnerabilidades no mundo digital com gentileza e verdade.
E foi aí que ocorreu a pequena epifania:
Meu mundo mudou, porque meu interior foi cuidado.
Hoje, eu vivo num mundo onde vejo pessoas que se amam com os corpos que têm.
Pessoas que criam seus próprios caminhos, que comentam com incentivo no post de quem está começando, que compartilham conhecimento ao invés de jogar hate.
Empresas que se importam com o meio ambiente. Gente que, como eu, busca ser melhor do que já foi.
Esse é o meu mundo e ele nasceu de uma escolha: cultivar aquilo que me nutre.
Talvez você também esteja se sentindo sobrecarregada, confusa ou ansiosa.
Talvez esteja cuidando de sementes que nem percebeu que plantou.
Por isso, te deixo um convite simples, mas poderoso:
Observe o que você tem alimentado.
Quem você escuta? Que ideias você consome? Que hábitos você repete?
E mais: Que mundo você está criando dentro de si?
A flor não nasce de um dia para o outro.
Mas começa, sempre, pelo cuidado silencioso.
Comece por você.
Pelo que você escolhe pensar, sentir, compartilhar.
Pelo que você deixa florescer.