Tem coisa que só sai da gente por escrito

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Tem coisa que só sai da gente por escrito

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Nem tudo que sentimos sabe sair pela boca.
Há dores que se escondem atrás dos olhos, alegrias que dançam em silêncio por dentro da pele.
Há palavras que ficam encalhadas entre o peito e a garganta.
Mas quando a gente escreve… elas encontram caminho.

Escrever é um ritual antigo.
É quando o mundo de dentro finalmente respira.
É quando a memória se senta conosco, deita no papel e sussurra: “Me escreve, me entende, me cuida.”

Na escrita, a gente organiza o caos.
Dá nome ao que parecia indecifrável.
Desamarra nós antigos com a delicadeza de quem borda com palavras.
Escrever é mais do que comunicar — é transformar.

Quando uma mulher escreve, ela costura o que foi rasgado.
Ela se reconecta com algo ancestral, íntimo, rebelde.
Escrever é um tipo de magia cotidiana que exige coragem:
a de escutar o que vive no silêncio.

E nem sempre é sobre publicar.
Às vezes, é só sobre respirar melhor.
Sobre deixar que a caneta leve embora um pedaço do peso.
Sobre entender que não estamos sozinhas — porque nossos cadernos testemunham tudo.

Foi com esse espírito que nasceu a oficina “Tem coisa que só sai da gente por escrito” – para saber mais sobre a oficina é só me chamar no whatsapp (13) 997966036
Um espaço para escuta, para rito, para pausa.
Um convite para que cada mulher encontre, em si, sua voz mais verdadeira.
Aquela que não grita, mas pulsa.

Porque no fundo, toda escrita é uma oferenda.
Uma forma de dizer:
“Aqui estou. Com tudo o que sinto. Com tudo o que sou.”

Abaixo, um conto de minha autoria para alinhavarmos juntas nossas escritas.

As Mulheres que Costuravam Silêncios

Dizem que em tempos muito antigos, quando uma mulher sofria, ela não falava — ela caminhava.

Caminhava até uma clareira no meio da mata, onde outras mulheres já a esperavam em silêncio.
Elas não faziam perguntas. Apenas entregavam um tecido em branco, agulha, linha… e tempo.

Ali, entre folhas, vento e olhos marejados, cada mulher começava a costurar o que doía.
Uma linha para a saudade.
Outra para o medo.
Um ponto apertado para o que ela nunca pôde dizer.

Costuravam por horas, dias… às vezes por luas inteiras.
E quando sentiam que já não doía tanto, paravam.
Dobravam o tecido com cuidado, colocavam sobre o peito e diziam umas às outras:
— Agora sim. A dor tem forma. E tendo forma, já pode descansar.

A cada mulher que partia, outra chegava.
E assim, a clareira se tornou templo.
E o silêncio, remédio.
E a costura, escrita.

Dizem que muitas dessas mulheres nunca aprenderam a ler.
Mas sabiam escrever no tecido do tempo.
Sabiam bordar palavras invisíveis com o fio da alma.

E até hoje, quando uma mulher escreve sobre o que sente, as velhas da clareira sorriem em algum lugar do vento.
Porque elas sabem:
tem coisa que só sai da gente por escrito.

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Respostas de 4

  1. Que lindeza! Tanta sensibilidade e verdade em um texto.👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽
    Me vi neste lugar de acolhimento.
    Desde sempre bordo palavras para esvaziar toda dor.

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