Vestida de liberdade

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Vestida de liberdade

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Há um tempo atrás, ao abrir meu armário, reencontrei um vestido guardado há anos.
Ele era lindo, bem romântico, com manga e decote “princesa”. De um tecido macio, de uma cor que eu achava que me favorecia e um corte que um dia me encantou.
Mas, ao experimentá-lo, percebi que não cabia mais. Nem no corpo, nem na alma. Estava apertado demais, não nas costuras, mas nas lembranças.
Foi ali, com o vestido no corpo e a respiração suspensa, que me dei conta: não era só uma peça de roupa que não me servia mais. Era uma versão minha que já não existia.
E, ainda assim, eu seguia guardando-a. Como tantas outras coisas que um dia vesti para caber mas que me causavam falta de ar só de lembrar.

Durante muito tempo, acreditei que minhas roupas precisavam me esconder. Que, sendo gorda, o mínimo que eu podia fazer era não ofender os olhos dos outros. Essa crença, vestida de “bom senso” e costurada com julgamentos, me foi repetida desde cedo, como se meu corpo fosse algo a ser disfarçado, jamais celebrado.

No livro A Coragem de Não Agradar, há uma frase que me atravessou como um espelho limpo:

Ao ler esse livro refleti que ao longo dos anos fui absorvendo julgamentos como uma verdade.
Aprendi a escolher peças largas, que camuflassem, que não chamassem atenção. Me escondia sob tecidos que não me representavam e achava que isso era cuidado.
Hoje, entendo que era medo. Medo de desagradar, de destoar, de não ser aceita.

Na busca por me autoconhecer, fui, aos poucos, devolvendo os pesos que não eram meus. Com o tempo, fui descobrindo que não era egoísmo me colocar como prioridade. Que a minha imagem poderia ser um reflexo de quem eu sou por dentro e não um disfarce.

Hoje, continuo sendo a mulher elegante que sempre fui. Mas agora, essa elegância não exige que eu me apague, que tenha medo do que as pessoas vão achar de mim ou do meu corpo. Eu posso e quero usar cropped, biquíni, blusas para dentro da calça e adotar um estilo que me faz bem, que celebra quem eu sou. Porque elegância para mim é estar vestida de forma adequada a cada ocasião e sustentar com dignidade a verdade do meu corpo.

Esse processo interno foi mais do que uma mudança de estilo. Foi uma escolha de pertencimento, uma reconstrução de identidade. Entendi que cada peça que escolho vestir com intenção é também um gesto emocional e espiritual. É como dizer para mim mesma, todos os dias: eu me vejo, eu me afirmo, eu me escolho.

Desaprender é, muitas vezes, mais difícil do que aprender.
Mas é também o caminho mais honesto de volta para si.

Talvez você, como eu, também tenha um “vestido apertado” guardado. Uma ideia de corpo ideal, uma crença limitante, um medo de desagradar. Talvez esteja na hora de abrir o armário interno e perguntar com coragem: o que ainda guardo por hábito, e não por amor?

Porque a liberdade não começa quando nos despem das expectativas.
Ela começa quando nos vestimos de verdade.

E hoje, eu escolho me vestir de liberdade.

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