Liana Ferraz é escritora e atriz e se define como “artista da palavra e da voz”. Mãe da Lorena, nasceu em Bragança Paulista, interior do Estado de São Paulo, em 1982. Doutora em Artes Cênicas pela Unicamp e pós-doutora pela USP. Publicou os livros: “Sede de me beber inteira” (Planeta, 2022), “Um prefácio para Olívia Guerra” (HarperCollins Brasil, 2023, finalista do prêmio São Paulo de Literatura 2024) e “Poemas de amor no divã” (Paidós, 2024) em coautoria com o psicanalista Alexandre Patrício. A autora acaba de lançar “Pequeno manual de como me amar” (Planeta, 2025).
Seu premiado livro “Um prefácio para Olívia Guerra” conta a história de Maristela e sua mãe, a poeta Olívia Guerra. Narrado por Maristela, que tinha apenas oito anos, quando presenciou a mãe saltar da varanda do apartamento onde moravam. Com o tempo e o reconhecimento póstumo da obra de Olívia, Maristela é convidada para escrever o prefácio de uma coletânea inédita de poemas da mãe.
Já em “Pequeno manual de como me amar”, Liana Ferraz mistura confissões, sonhos e narrativas de amores vividos e inventados para compor o livro que traz poemas e textos curtos que celebram o amor e a arte.
Conhecida por seu trabalho com jogos de palavras e reflexões, a autora apresenta uma poesia que ressoa no íntimo de quem busca compreender-se.

A entrevistei para o podcast Entre Elas e falamos sobre processo de escrita, literatura, teatro e vida! Liana conta que a sua relação com a escrita se dá desde muito nova. “Eu tenho com certeza uma memória muito antiga de entender que eu penso o mundo pelas palavras. Que é um jeito de escrever também. Processar o mundo já transformando as coisas em palavras em potencial, em voz, em conversa. A palavra me acompanha desde muito cedo. Escrever já é um passo além, porque te coloca em contato com a letra e já pressupõe uma alfabetização. Desde que me conheço por gente cultivo o hábito do diário, o que chamo hoje no meu Instagram de rabisco. Eu fui uma leitora muito voraz. Mas a cada livro que eu lia, eu já me imaginava escrevendo. Eu já era uma leitora que queria escrever também. Mas escrever profissionalmente foi uma decisão tomada em 2018. Ficou muito urgente e insuportável não escrever e precisei fazer disso a minha rotina de trabalho”.
Apaixonada por palavras, Liana diz que quando estava se dedicando à escrita de “Poemas no divã” as palavras preferidas eram “paixão” e “apaixonamento”. “Mas uma das minhas palavras preferidas da vida é “cafuné”. Além de “tonto”, “boboca”, palavras que preenchem a boca. Eu sou apaixonada não só pela palavra, mas pelo som. Mas também há momentos em que gosto de palavras mais cortantes, mais lâminas. Embora a palavra tenha em si mesma, toda a matéria que eu preciso para compor um texto, a ideia vai nascer em função do contexto que eu estou vivendo”.
A palavra na literatura e no teatro
“Eu quero que a minha literatura seja o mais próximo possível do som, apesar da principal diferença da palavra na literatura e no teatro ser a sincronicidade. Se eu estivesse diante de uma plateia, ela estaria captando além da própria palavra dita o meu gestual, a pausa, o olhar, a minha respiração, ou seja, tudo que comunica. Na literatura, temos a palavra escrita como matéria e não podemos levar a respiração de forma concreta, mas quando vou escrever, geralmente, eu falo em voz alta ou durante ou depois. E eu modifico toda a configuração do meu texto a partir da respiração que eu quero que ele tenha. Ter feito teatro antes de ser escritora possibilitou um pensamento que se resolve no corpo-voz. Eu gosto muito dessa ideia de que o nosso corpo e a nossa voz resolvem coisas que, às vezes, só a palavra escrita não resolve. A minha literatura é muito contaminada por isso. Eu estou sempre lendo os meus textos, fazendo saraus e lendo textos de outras pessoas”.
O ato de escrever
Liana Ferraz ressalta ainda que há várias formas de se resolver um texto, que vão desde um espaçamento a uma repetição da palavra. “Dessa forma, estou pensando muito mais em uma pulsação sonora do que propriamente em uma construção gramatical. Mas admito que eu tenho uma verdadeira obsessão pela palavra escrita. Para mim o papel em branco é um palco cheio de possibilidades. Eu gosto de brincar com espaçamentos, de brincar com a página que tem uma palavra só no final”.
A autora conta que textos mais longos são escritos no computador e textos curtos sempre à mão. “Eu escrevo num fluxo muito intenso. Eu tenho essa pressa. Escrevo com muita pressa. Às vezes, eu tenho vontade de fazer um curso de datilografia só para ver se eu consigo digitar mais rápido ainda (risos). Eu tenho muita pressa quando eu escrevo e acho que isso acaba definindo um pouco também o meu estilo. Meus textos são muito acelerados. Tenho muita dificuldade de reler meus textos. Tenho, inclusive, uma certa preguiça. Até porque tem algo ali da escrita que eu tenho muita vontade de manter. E isso vai me definindo também como autora. Eu gosto desse estilo, dessa coisa performativa, de uma pessoa que digita rápido e que tenta alcançar o fluxo do pensamento e que depois trabalha o espaço em branco. Então, um texto que se pretende voz também é um texto que tem que aceitar o imperfeito, a rasura”.
Escrita matinal
Liana Ferraz conduz um grupo online de escrita criativa de nome Escrita Matinal que proporciona práticas guiadas, clube do livro e espaços de troca sobre escrita e literatura.
As práticas guiadas acontecem toda segunda, terça, quinta e sexta-feira, das 8h às 8h45 com a apresentação de um dispositivo inédito (proposta de tema e/ou formato). O grupo já reuniu mais de 800 pessoas de várias partes do mundo para praticar a escrita criativa.
Uma vez por mês, o grupo se encontra com Carol Vidotti para conversar sobre uma obra escrita por uma mulher no Clube do Livro. Também é possível participar do clube adquirindo um ingresso avulso.
Interessados em participar da Escrita Matinal devem se inscrever através do site www.escritamatinal.com.br.
Saiba mais
@escritamatinal
@lianaferraz
Livro
Pequeno manual de como me amar
Editora Planeta
R$ 49,90