Marinês: a rainha do xaxado no nordeste brasileiro

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Marinês: a rainha do xaxado no nordeste brasileiro

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Nascida no agreste Pernambucano, na cidade de São Vicente Ferrer no ano de 1935, Marinês foi a primeira voz feminina no forró, abrindo caminhos e tornando possível a participação das mulheres nesse ritmo tão enraizado e presente na cultura popular da região nordeste do Brasil. Até alcançar os grandes palcos desse país, ela precisou percorrer uma longa jornada, vencendo preconceitos, persistindo na música, preservando tradições do nosso povo nordestino, e principalmente, enfrentando o machismo pisando forte e firme no xaxado, ritmo e dança que faz parte do forró e é originária do cangaço nordestino. 

Vocês sabiam que Inês é seu nome de batismo? Pois é, poucas pessoas a conhecem por esse nome, já que a mesma escolheu Marinês como seu nome artístico, criado a partir da necessidade de participar de um concurso de calouros da rádio difusora em Campina Grande, Paraíba, sem que seu pai soubesse, já que naquela época, década de 40, havia muito preconceito com a mulher no forró, justamente por nunca antes terem visto e nem ouvido mulheres cantando e tocando esse ritmo, apenas os homens que ocupavam esses espaços. 

 Mas ela ousou, foi corajosa, enfrentou as adversidades e ganhou um apelido conhecido no Brasil inteiro, como a rainha do xaxado, nomeação carinhosa de Luiz Gonzaga, o rei do baião, que encantado com sua voz e com a sua inteligência musical, fez várias parcerias, compartilhando o mesmo palco em vários estados brasileiros apresentando-a como a rainha do xaxado. E foi com esse nome que ela se tornou conhecida e inspirou vários artistas da Música Popular Brasileira, como: Gal Costa, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Lulu Santos, Elba Ramalho, entre outros. 

Marinês foi e sempre será símbolo de resistência, ousadia e inspiração para muitas mulheres, em especial para as mulheres nordestinas, pois o lugar que ela ocupava na música e no forró foi conquistado com muita luta, e nasce aqui, nesse chão nordestino enraizado de uma cultura bonita, popular, onde se celebra a vida com diversas manifestações culturais. Imaginem transitar no meio musical em que não havia mulheres? Em que só se viam e ouviam vozes masculinas? Que pensar em mulheres cantando e tocando forró causava estranheza e até desconforto para alguns?

É possível imaginar um ambiente desafiador para Marinês, tendo que lidar e enfrentar de cabeça erguida o machismo e a misoginia que estruturam a sociedade brasileira, e que consequentemente se fazem presentes nas músicas e na vida cotidiana de Marinês enquanto artista desse ritmo tão amplo e popular. São muitos dedos apontando na direção de uma mulher que ousa seguir seus sonhos, que persiste naquilo que acredita, e que mostra seu talento mesmo quando o machismo surge como um abismo, e mesmo assim não consegue apagar o brilho dessa mulher que se tornou cantora, atriz, apresentadora e bacharel em Direito, mostrando sua força e capacidade artística e profissional.

Marinês cantava suas composições com trajes inspirados no cangaço, incluindo chapéus de couro e roupas de couro, fazendo referência a estética do cangaço, que faz parte da história e da cultura do povo nordestino. Suas músicas falam com o público através de uma linguagem regionalista e coloquial, em que fala sobre a cultura e a vida no nordeste brasileiro, narrando o cotidiano, o amor e a fé, as festividades, as dificuldades e necessidades enfrentadas pelo povo nordestino. 

Ouso dizer, que o forró é o estilo musical mais amado pelo povo nordestino, isso porque o forró nasceu aqui, nesta terra diversa de muitas culturas, tradições memoráveis, familiares e amigos reunidos em noite de São João, fogueira acesa, comidas típicas de milho, forró tocando alto, pés juntinhos pisando no chão do terreiro iluminado no ritmo e no compasso da zabumba, do triângulo e da sanfona afinada.

PISA NA FULÔ- Marinês

“Um dia desse fui dançar lá em Pedreiras
Na rua da Golada, gostei da brincadeira
Zé Caxangá era o tocador
Mas só tocava pisa na fulô

Pisa na fulô, pisa na fulô,
Pisa na fulô,
Não maltrata o meu amor (…)”

Marinês subia no palco como uma artista nordestina, não negava suas raízes, não se escondia em outras vestes que não a sua, não neutralizava o seu sotaque, cantava e tocava triângulo lindamente, abrindo caminhos para que outras mulheres iniciassem no forró e no xaxado. Marinês faleceu em 2007 no Recife, deixando um legado importante de ser lembrado e celebrado por nós, que conhecemos e sentimos diariamente o olhar e o julgamento da sociedade sobre as nossas escolhas pessoais, profissionais e em todos os âmbitos de nossas vidas. 

Viva a grandeza dessa artista que ousou e que hoje é lembrada como símbolo de resistência no forró e no xaxado, viva Marinês!

– Conheçam mais sobre Marinês, link de acesso abaixo: 

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Respostas de 2

  1. Adorei conhecer um pouco da história de vida e da relevância de uma mulher como Marinês para a cultura e a potência do nosso país.
    Gratidão por compartilhar!

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