“O Bem Virá”: A história de mulheres pela emergência de sobreviver

Despretensiosamente, em uma noite qualquer de sexta-feira, me peguei embasbacada assistindo relatos de algumas mulheres que entre as décadas de 1980 e 1990 lutaram arduamente por um pouco de dignidade no sertão pernambucano. “O Bem Virá” é um filme/documentário que conta a história de sertanejas que trabalhavam em busca de seu sustento nas frentes de emergência de combate à seca em épocas de estiagem, no Sertão do Pajeú, zona rural de Pernambuco. 

Tudo partiu de uma foto emblemática de treze delas e uma busca da diretora Uilma Queiroz e equipe pelo paradeiro de cada uma. Não foi possível encontrar todas (além das treze, existem muitas outras), mas os achados foram valiosos. O filme conta a importância dessas frentes, muitas com homens também atuantes, mas o ponto chave é a peculiaridade de cada história de cada mulher encontrada. 

Para além do trabalho árduo, os percalços pessoais marcados pela estrutura patriarcal. Em cenas desprovidas de cortes, cada mulher participante do filme conta abertamente situações de violência sexual, machismo, miséria e outros desafios enfrentados pela mulher sertaneja. Seus rostos enrugados carregam experiências de dor e aprendizado através da vida que tiveram. Algumas riem, outras lembram com ódio no olhar. Outras choram. Não é para menos. 

O documentário, que nasceu em 2020, também foca no que essas mulheres conquistaram individual e coletivamente. Através de sua resistência, alcançaram sua própria independência após rotinas sofridas em busca de um bem que finalmente viesse. 

Parte emocionante do filme é a reunião delas, que em um momento de descontração, fazem uma releitura da foto que originou tudo aquilo. Um encontro carregado de lembranças, dores compartilhadas e muito forró. 

Atualmente, “O Bem Virá” está rodando o Brasil. Deixo o trailer aqui, mas indico procurar o cinema mais próximo e assistir na íntegra!

Míriam Pimentel é jornalista pela Universidade Federal de Alagoas, amante da cultura pop, apaixonada por música e pisciana com ascendente em peixes que ama escrever devaneios lúcidos e crônicas embriagadas, não necessariamente nessa ordem.